quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O dia em que eu quase fumei

Desde que parei de fumar, há 10 meses e 6 dias atrás, aquela vontade de acender um cigarro sumiu. Claro, foi sumindo com o tempo, mas fazia um bom tempo que eu não pensava nisso. Esse é um dos grandes motivos de não voltar tanto aqui. Esse espaço sempre foi minha terapia, meu ombro pra chorar, meu amigo pra desabafar. Conforme a vontade de fumar foi passando, fui deixando também de escrever. Mas voltei. E para contar: ontem eu quase acendi um cigarro. Foi quase. Foi por pouco. Passou perto mesmo. Primeira vez nesse tempo todo que eu senti que passou perto.

Tive um dia horrível ontem. Horrível. Terrível. Cansativo. Estressante. Irritante. Tudo-junto-ao-mesmo-tempo-agora. Me estressei muito no trabalho, me estresse no muay thai (a ponto de engolir a vontade de chorar de raiva), me estressei mais ainda no trabalho de novo (e pra coroar ainda fui embora megatarde). Enquanto eu voltava pra casa, respirando fundo e vendo o entardecer da rua, vi alguém acender um cigarro. Daquele jeito que parece que a pessoa precisa daquilo pra respirar. A pessoa acendeu o cigarro e deu aquela tragada de alívio, aquela tragada que se dá com o olhar distante, a mente longe, mas que ao liberar a fumaça atenua as marcas de preocupação no rosto. A única coisa que consegui pensar naquele momento foi: é exatamente disso que eu preciso. Respirei fundo. De novo. Segui.

Segui, mas não parei de pensar naquilo, o que já me deixou preocupada. Fui para o aniversário de uma amiga. Vi o pessoal fumando. Várias vezes pensei em pedir um cigarro. E minha cabeça até tentou me enganar: vai que é só um, só pra aliviar o estresse. Eu quase conseguia enxergar o diabinho de um lado tentando me seduzir. Claro que o anjinho tava ali, me lembrando a todo instante que não seria só um e que no fundo aquilo ia passar. Tinha que passar. Eu quase não admitia estar sentindo aquilo de novo. Aquela sensação horrível do início do processo, lá em janeiro. Tinha que passar. Não passou.

Antes de ir embora passei em um postinho para abastecer. Entrei na lojinha de conveniência. Encarei meu antigo algoz. Tava lá, lindo e reluzente. Há 10 meses que eu não achava ele lindo. 10 meses em que eu nem me tocava que ele ainda era vendido. Mas ele tava lá. Me encarando. Encarei de volta. O diabinho dizia que ia ser bom. Cheguei a tremer o olhar. Quase. Quase. Mas no fim fiquei firme. Disse não. E pela primeira vez naquele dia do inferno tive uma sensação real de alívio. De repente passou. Até a raiva daquele dia horroroso passou. Sabe "tirar o elefante das costas"? Foi isso que eu senti. Exatamente isso.

Aquela noite eu dormi bem. Dormi tranquila. O meu dia tinha sido um pesadelo. O pior pesadelo. Mas finalmente tinha acabado.