quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O dia em que eu quase fumei

Desde que parei de fumar, há 10 meses e 6 dias atrás, aquela vontade de acender um cigarro sumiu. Claro, foi sumindo com o tempo, mas fazia um bom tempo que eu não pensava nisso. Esse é um dos grandes motivos de não voltar tanto aqui. Esse espaço sempre foi minha terapia, meu ombro pra chorar, meu amigo pra desabafar. Conforme a vontade de fumar foi passando, fui deixando também de escrever. Mas voltei. E para contar: ontem eu quase acendi um cigarro. Foi quase. Foi por pouco. Passou perto mesmo. Primeira vez nesse tempo todo que eu senti que passou perto.

Tive um dia horrível ontem. Horrível. Terrível. Cansativo. Estressante. Irritante. Tudo-junto-ao-mesmo-tempo-agora. Me estressei muito no trabalho, me estresse no muay thai (a ponto de engolir a vontade de chorar de raiva), me estressei mais ainda no trabalho de novo (e pra coroar ainda fui embora megatarde). Enquanto eu voltava pra casa, respirando fundo e vendo o entardecer da rua, vi alguém acender um cigarro. Daquele jeito que parece que a pessoa precisa daquilo pra respirar. A pessoa acendeu o cigarro e deu aquela tragada de alívio, aquela tragada que se dá com o olhar distante, a mente longe, mas que ao liberar a fumaça atenua as marcas de preocupação no rosto. A única coisa que consegui pensar naquele momento foi: é exatamente disso que eu preciso. Respirei fundo. De novo. Segui.

Segui, mas não parei de pensar naquilo, o que já me deixou preocupada. Fui para o aniversário de uma amiga. Vi o pessoal fumando. Várias vezes pensei em pedir um cigarro. E minha cabeça até tentou me enganar: vai que é só um, só pra aliviar o estresse. Eu quase conseguia enxergar o diabinho de um lado tentando me seduzir. Claro que o anjinho tava ali, me lembrando a todo instante que não seria só um e que no fundo aquilo ia passar. Tinha que passar. Eu quase não admitia estar sentindo aquilo de novo. Aquela sensação horrível do início do processo, lá em janeiro. Tinha que passar. Não passou.

Antes de ir embora passei em um postinho para abastecer. Entrei na lojinha de conveniência. Encarei meu antigo algoz. Tava lá, lindo e reluzente. Há 10 meses que eu não achava ele lindo. 10 meses em que eu nem me tocava que ele ainda era vendido. Mas ele tava lá. Me encarando. Encarei de volta. O diabinho dizia que ia ser bom. Cheguei a tremer o olhar. Quase. Quase. Mas no fim fiquei firme. Disse não. E pela primeira vez naquele dia do inferno tive uma sensação real de alívio. De repente passou. Até a raiva daquele dia horroroso passou. Sabe "tirar o elefante das costas"? Foi isso que eu senti. Exatamente isso.

Aquela noite eu dormi bem. Dormi tranquila. O meu dia tinha sido um pesadelo. O pior pesadelo. Mas finalmente tinha acabado.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Da capacidade de dizer não

Completei meu 9º mês sem fumar no último dia 22. Para mim, uma grande vitória. Quando eu iria imaginar isso? 9 meses: já nasceu. Tinha uma época em que eu não podia fumar na casa dos pais do namorado. Lembro de dentro do carro, saindo no portão, acender o cigarro desesperadamente porque eu já tava pirando por ficar algumas horas sem fumar. E ainda fumava uns quatro na colada, que era "pra regular a lenta". É engraçado como com o tempo a gente aprende a dizer não.

Não.

No início é difícil, mas é possível. Um exercício de controle. Não. Disciplina. Não. Consciência. Não. Não. Não. Não.

Como é bom quando a gente consegue, finalmente, dizer não e sentir bem com isso a ponto de quase não precisar dizer nada.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

E agora eu também combato o fumo?

Já tem um tempo que não escrevo aqui. Sabe correria? Pois é, continua intensa. Mas o que mais tem me deixado feliz é que mesmo com correria, estresse, trabalho e problemas de seres humanos normais, não penso mais no cigarro como solução de tudo isso. Esse é um  dos motivos da escassez de posts. Mas eu sempre volto, seja para comemorar mais um mês, mais um dia, mais uma hora sem cigarro (e principalmente, comemorar por estar de bem com isso), seja para contar novas histórias.

E aí que hoje é Dia de Combate ao Fumo. Confesso que nem sabia. Afinal, nunca tinha pensado em dar bola para essas coisas até sete meses atrás. Agora importa. E daí que fiquei pensado: será que eu combato o fumo?


Nunca fui incisiva com ninguém. Nunca parei para dar discurso. Nunca tive vontade. Até porque, vamos combinar, é pura chatice. Eu achava chato quando fumava e continuo achando chato sem fumar.

Por outro lado, no momento em que comecei a compartilhar dicas, conselhos e o meu próprio desespero e fraquezas nesse blog, também estou combatendo o fumo. No momento em que digo que é possível, que eu me sinto melhor, que respiro melhor, que minha pele está melhor e que não matei ninguém, estou combatendo o fumo. Porque quando a gente ainda fuma, mas sabe que devia parar, a gente acha que não vai dar para aguentar, a gente acha que vai enlouquecer de ver, a gente cogita virar serial killer, a gente quase não vê sentido no mundo sem o cigarro. No momento em que eu, uma "ex-hard smoker" diz que dá para sentir bem, que com o tempo a gente vê que a nossa vida existe sem cigarro, que com o tempo se sofre menos, que é possível tirar isso da rotina, entender que se a gente precisa mesmo de bengalas existem outras mais saudáveis e menos fedidas, neste momento eu também estou combatendo o fumo.

E me sinto tri bem por isso!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

6 meses sem cigarro

E ontem fiz aniversário. Seis meses sem fumar.
Seis meses sem sair contando as moedas pra comprar cigarro.
Seis meses sem aquele cheirinho desagradável.
Seis meses de hálito sempre em dia.
Seis meses de pele sem manchas.
Seis meses de fôlego para as escadarias.
Seis meses sem ronquinhos.
Seis meses sem tosse matinal.
Seis meses sem precisar sair correndo no meio da noite, por puro desespero, para comprar cigarro.
Seis meses sem perguntar "e lá pode fumar"?
Seis meses sem passar frio e pegar chuva para fumar na rua.
Seis meses sem nenhum pigarro.
Seis meses que minha vida se prolonga estatisticamente.
Seis meses de liberdade.
Seis meses de luta.
Seis meses de vitória.

Flores que ganhei do meu amor no meu aniver surpresa de seis meses sem fumar


Parabéns para todos nós que, em algum momento, conseguimos não só parar, mas viver melhor com isso.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ainda bem que não vivemos mais nos anos 1960

A primeira vez que assisti a série Mad Men lembro bem do choque que causou. Eu ainda fumava (e muito), mas a minha cara embasbacada foi inevitável: todo mundo fumava demais, o tempo inteiro. É estranho pensar em mulheres grávidas fumando, uma sala de reuniões com executivos de empresas em que a carteira de cigarro passa de mão em mão para que todos possam fumar, pessoas fumando no mesmo ambiente com crianças pequenas, povo fumando enquanto come. Cada vez que assisto e penso sobre a série penso em quanto nossos hábitos mudaram. Mais de 90% do comportamento dos personagens seria hoje execrado pela sociedade.

Para ser galã em agência de PP nos anos 2000, Don Draper teria que parar de fumar, usar umas roupas mais descoladas e um óculos com armação de acrílico. 


Como disse, ainda fumava muito na época que em assisti pela primeira vez a vida Don Draper em uma agência de publicidade na década de 1960. Lembro que fiquei com muita vontade de fumar só de assistir a série. Sabe que fico feliz de termos mudado tanto nosso comportamento. E pensava assim quando eu era fumante também. Mesmo quando eu fumava, não suportava a ideia de um monte de gente junta fumando num lugar fechado, nem na cara das crianças.

Viva as mudanças!

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Eu também parei: Manu Colla


A Manu é ótima! Parou há seis meses e é dela este relato para o Eu também parei:

Assim, como tu, esse é meu primeiro Dia Mundial sem Tabaco de verdade! Lembro que nos outros anos a data me incomodava porque era sempre um lembrete dos meus amigos "olha, hoje era um dia bom pra parar"...


Eu estou sem fumar desde dezembro do ano passado depois de dezessete anos como fumante. Comecei a fumar de bobeira e, depois, o embalo continuou na faculdade, ainda de bobeira. Afinal, que jornalista não gostava de fumar E tomar café?


Vou te contar que não foi fácil. Não tomei remédios nem usei adesivos, nas primeiras semanas achei que ia matar alguém e foi preciso terapia pra entender que era importante eu ser humilde diante do vício. Entender que era MUITO difícil parar de fumar, um super desafio pra mim, e que eu precisava substituir aquele ritual por outro. Escolhi correr. Deu certo durante o verão, mas daí machuquei o pé num show e ainda não retomei a rotina da corrida por medo de machucar mais ainda. A ideia é voltar pra natação, agora com mais fôlego.






Não sei se parei pra pensar na minha vida sem cigarro. Na verdade, não parei não, foi teu convite que me provocou isso e te digo: minha vida mudou 100% pra melhor. Pouquíssimos amigos ainda não fumantes e tive a sorte de pegar uma época em que alguns deles também estavam parando, e a galera aqui do trabalho também. Fumar virou uma coisa brega - acho que só era legal lá na época do Mad Men, mesmo, e hoje em dia é muito mais normal gente torcendo o nariz pra cigarro do que o contrário. Cuidei pra não virar uma daquelas ex-fumantes xiitas que reclamam ao menor sinal de fumaça por perto ou ficam militando pra todo mundo parar de fumar. Sempre odiei quando as pessoas em volta me enchiam o saco pra parar de fumar. 


Acho que, como qualquer outra droga, a iniciativa de parar tem que ser de quem é viciado, por isso a militância pouco adianta. Pra mim foi bacana porque finalmente entendi o que sempre soube que seria um benefício de parar de fumar: a pele melhor, hálito gostoso, mais fôlego, disposição. Sentir isso no cotidiano, depois de tanto tempo como fumante, é muito bacana. Confesso que me deixa feliz não enfrentar nenhum tipo de hostilidade dos amigos e conhecidos, também. O único porém é que acabei engordando, mas. diante dos benefícios, não me importei muito com isso. 

Manuela Colla - jornalista

Eu também parei: Luciana Fumo Zero!

A primeira história do Eu também parei é a da Lu, que parou há três meses e 15 dias:

Creio que vontade de parar de fumar, todo o fumante tem. Eu pensava nisso até quando estava saboreando uma bela tragada. Muitas razões me levaram até a decisão de parar: os apelos e orações da minha mãe, os argumentos orquestrados dos meus sobrinhos Manoela e Matheus, as orientações do Dr. Drauzio Varella (sim!) e, principalmente, a minha vaidade e vontade de viver até ficar velhinha. Fiz as contas e percebi que metade da minha vida foi acompanhada ou algemada ao “Free Maço Vermelho”, portanto mais do que suficiente. Esta é terceira vez que decido parar. Na primeira – há 17 anos atrás – fiquei 11 meses longe do cigarro e na segunda vez apenas três meses. Não é fácil, aliás, é bem difícil, mas estou tratando o assunto como uma guerra, uma batalha de cada vez, por isso fiz um plano para parar em cinco dias, que escrevi a mão, como um compromisso. Chamei de Projeto Luciana Fumo Zero!


1º dia – 10 cigarros (metade do que eu fumava normalmente), sendo que o primeiro só seria aceso 2h depois do habitual, ou seja, 10h da manhã.
Fumei 8 no total.
2º dia – 8 cigarros, sendo que o primeiro ao meio-dia.
Fumei 5 no total.
3º dia – 5 cigarros, sendo que o primeiro só depois do almoço.
Fumei 3 no total.
4º dia – 3 cigarros, sendo que o primeiro só no final do expediente.
Fumei 1 no total, antes de dormir
5º dia – 1 cigarro.
Não fumei mais. Neste dia, sexta-feira de carnaval, embarquei rumo ao Rio de Janeiro.


Fiquei hospedada na casa de uma amiga e estávamos em sete pessoas. Para o meu alívio, nenhum fumante. Fizemos carnaval de bloco em Santa Tereza, aqueles que reúnem milhares de foliões nas ruas. Logo no primeiro bloco, me perdi dos amigos e avistei a cena – tipo câmera lenta – um cara acendendo um cigarro no meio da multidão. Paralisei e só pensava em me jogar naquele homem pedindo pelo amor de Deus que ele me desse um cigarro ou eu sairia atrás dele até que a bituca caísse no chão. Foi neste momento que eu comecei a escutar a vaia, primeiro discreta, mas que foi tomando corpo junto com exclamações do tipo: Não! Cigarro Não! O sujeito, super envergonhado, jogou o cigarro no chão, deu um sorriso para a multidão e pisou no maldito. Aquilo me deu o alerta que eu precisava. Eu tinha tomado a atitude certa.


Ela olhou para o cigarro e disse: ASSIM VOCÊ ME MATA - tá, a piada foi horrível, parei. 




Hoje, com alguns quilos a mais, tentando me adaptar ao ritmo de treinos na academia (veja só!), a minha maior alegria foi saber que a minha grande amiga Flávia Dentice também parou inspirada em mim. Por isso decidi colocar aqui o meu “plano”. Vá que alguém se anime também...

Luciana Fagundes – jornalista e ex-fumante!

Feliz Dia Mundial Sem Tabaco!

Sabe que achei que esse seria um dia normal sem cigarro. Mas é engraçado. Tou com aquela sensação de orgulho de mim mesma e gratidão pelo apoio das pessoas que me gostam à flor da pele. Emocionada. Pô, primeira vez que não tou brigando com ninguém no Dia Mundial Sem Tabaco. Sério! Eu era daquelas fumantes que brigava mesmo. O engraçado é que agora que parei de fumar senti a data de forma positiva, até porque todas as abordagens do dia foram de congratulações (e foram poucas, é verdade).

Mas tou feliz. E como é bom sentir isso.

Te convido a reler os meus três primeiros posts neste blog. O momento em que eu não tava batendo papo com ninguém, como agora. Esses foram os principais momentos em que eu estava tentando apenas não enlouquecer.



Parei! E agora?

Tem vezes que melhora

Te negarei três vezes

Nossa, fico feliz mesmo de não sentir mais isto. De não sentir essa angústia, essa ansiedade. Fico feliz da minha ficha ter caído, de eu estar me compreendendo melhor. Feliz por ter inspirado pessoas muito queridas. Orgulhosa de não precisar mais acender um cigarro. Feliz com meu cheiro, com minhas unhas, com meus dentes, com meu hálito, com a minha pele. Feliz por ter pessoas que me elogiam e estimulam diariamente a me manter firme.

E para comemorar a data, que é especial, sim, chamei pessoas bem legais, que também conseguiram parar para contar suas histórias. Vai começar o Eu Também Parei. Quem quiser participar, mande email para paula.coruja@gmail.com contando sua história. Vou adorar!

Aguardem os próximos posts! E aproveitem este dia!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Meu primeiro Dia Mundial Sem Tabaco

Parar de fumar é uma tarefa complicada. E ingrata. Não tem moleza, não facilidade. Dá um trabalho do cão. E juro que me dá uma tristeza profunda cada vez que alguém que conseguiu passar por esse inferno, ultrapassar a barreira da ansiedade extrema, aparece fumando de novo. Acho triste mesmo. Porque essa pessoa vai, provavelmente, ter que fazer tudo de novo. E, sério, passar por aqueles primeiros dias de novo ninguém merece. Mesmo.

Tava pensando nisso vendo um filme. O nome nem vale ser citado, mas a protagonista foi presa e começava o filme pedindo cigarro (e essa era uma penitenciária em que não podia fumar). Ela passou um tempão, meses, lutando para provar inocência e qual é a primeira coisa que ela faz quando é solta? Vai para casa e acende um cigarro. Ai, achei tão triste, que parei até de pensar no enredo do filme. Aquilo se tornou uma história paralela (e para mim mais importante).



Para quem já chegou tão longe, eu sei que passa pela cabeça acender só um cigarrinho. Sei bem. Mas é tão importante não acender. Não deixar o vício falar mais alto. Não ser tomado por aquela autocomiseração destrutiva, que pensa "azar", "sou um fraco", "todo mundo sabia que ia dar errado". Esse é o principal: lembrar nos momentos de fraqueza que nós temos o controle sobre nós mesmos, que se tivemos até ali, teremos!

Completei meu 4º mês sem cigarro. E estou muito feliz por isso. Esse é o meu primeiro Dia Mundial Sem Tabaco em que eu fico sem tabaco. Confesso que não senti nenhuma emoção extraordinária, só dei aquele aquele sorriso que agora é mais branco e respirei bem fundo sem pigarro e lembrei de como isso é bom.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Nem amputação, nem tatuagem

Quando fiz minha primeira tatuagem, cheguei no estúdio pronta para sentir uma dor parecida com a de uma amputação. Sempre me disseram que doia muito, muito mais do que qualquer ser humano normal poderia imaginar. A verdade? Saí de lá faceira. Doeu, mas não doeu taaaaaaaaaanto assim. Sabe que com parar de fumar a coisa tá indo pelo mesmo caminho?

Tá doendo, claro, mas bem menos do que eu imaginei que seria no início da jornada. Acho que o planejamento foi fundamental para que isto ocorresse. Pensei muito nisso antes, planejei o que fazer nos momentos de desespero e, mais importante, conto com um baita apoio da minha família e dos meus amigos. Achei, mais uma vez, que sentiria a dor de uma amputação, já que eu sentia o cigarro como extensão de mim mesma. Mais uma vez, me enganei.



Tinha uma coisa entre nós (eu e o cigarro) que eu achei que transcendia qualquer relação. É sério, eu entendia o cigarro como extensão do meu corpo. Não imaginava minhas mãos sem ele rolando entre os dedos. Via o cigarro como companheiro, como metade da solução para tudo que me atormentava. Entretanto, deixá-lo de lado, tirá-lo da função de protagonista e ver que, na realidade, ele só tirava o meu brilho e não resolvia nada na minha vida, foi uma baita lição.

Não, não foi como uma amputação. Doeu bem menos que isso. Quando entendi que ele não era eu, não tinha necessidade de sofrer mais que o necessário. Porque, sim, a dor existe, mas acho que mais por conta dessa ficha que cai, de que ele antecipava a nossa chegada negativamente (quem vem ali? pelo fedor de cigarro é a fulana), e que, mesmo fumando 40 cigarros por dia, meus problemas continuavam lá e eu nem deixava de engordar.

A dor não é a da amputação. Nem a da tatuagem. É uma dor chata, mas não maior que nada. É chata porque volta pra incomodar de vez em quando. Mas passa. Até que, uma hora, não volta mais.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Nem tão controlada assim

Tem gente que acha que porque eu consigo falar sobre parar de fumar, sou mais calma. Nada disso. Mais racional sobre o assunto, talvez. Mas não sou nada mais calma que ninguém que me lê aí do outro lado. Ainda mais depois de parar de fumar. Eu também acho os três minutos da crise de abstinência detestavelmente longos. Quase infinitos. Claro, hoje acontecem com menos frequência, mas já me deixaram bem doidinha. Quer ver?



- Já fiz faxina às 2h: a cama tinha pregos. Foi quando achei que teria que jogar fora o tampo do fogão. Esfreguei obsessivamente e nada de limpar aquela droga. No dia seguinte, descobri o melhor desengordurante do mundo (e deixei ele pronto pro surto seguinte).

- Tomei dois litros de Coca Zero numa noite (e mais dois litros de água depois disso): ansiosa? eu? imagina!

- Comi, numa mesma noite, um vidro de palmito, meio de pepino e um de ovo em conserva: nem preciso dizer que as consequências disso foram desastrosas no dia seguinte.

- Decidi que só chocolate me acalmaria. E tinha que ser Talento. E eram 23h: pode parecer banal, mas nada no centro de Porto Alegre está aberto a esta hora. Rodei o bairro a pé e nada. Ainda bem. Quando voltei pra casa, 30 minutos depois, a vontade tinha passado.

- Briguei com a minha irmã porque ela disse que eu tava nervosa. E eu nem tava: ahan, claro. A Sra. Autocontrole gritava histericamente que não tava nervosa, nem brigando com ninguém.

- Insônia, insônia, insônia: essa ainda me ronda de vez quando. Teve uma vez que, na cama, o sono veio às 5h30. O detalhe é que eu acordo às 6h30. #nãotáfácilviver

- Mastigar cabo usb: sim, nojento. Mas completamente involuntário. Sabe aquelas coisas que tu faz e quando te dá conta que tá fazendo joga as mãos pro céu porque não tinha ninguém de testemunha? (o que não adianta muito quando você resolve contar isto no blog)

Bom, tá bem bom, né? Deu pra notar que tive e ainda tenho meus momentos de extrema ansiedade, como todo mundo que para. A diferença é que eu não cogito mais botar um cigarro na boca, apenas procurar meios de não me sentir mais assim.

E vocês? Tudo bem??

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O fumo, o autismo e o alívio

Uma das coisas, como já contei, que sempre me motivou a parar de fumar é a perspectiva de engravidar. Nunca quis que mais alguém pagasse pelos meus erros nos cuidados com a minha saúde. Por isso fiquei tão assustada e, ao mesmo tempo aliviada, com essa notícia do Terra.

Reprodução/Terra


Mulheres que fumam durante a gravidez pode estar mais propensas a ter um filho com autismo de alto funcionamento, de acordo com a pesquisa publicada no jornal britânico Dailymail. "O que estamos vendo é que alguns transtornos do autismo, mais do que outras doenças, podem ser influenciado pelo fumo da mãe durante o período de gestação", disse o autor Professor Amy Kalkbrenner da Universidade de Wisconsin-Milwaukee.


Kalkbrenner e seus colegas fizeram um estudo de base populacional comparando dados de tabagismo de certidões de nascimento de centenas de milhares de crianças de 11 estados para um banco de dados de crianças diagnosticadas com autismo. Eles descobriram que 13% das mães cujos filhos foram identificados como tendo um transtorno do espectro do autismo em oito anos de idade haviam fumado durante a gravidez.


Assustada, porque parece que cada dia surge mais uma doença desencadeada pelo cigarro. Aliviada porque, ufa, parei de fumar e ainda vou levar um tempo para engravidar. Tempo suficiente para que meu futuro filho não pague pelos meus erros.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Quer parar de fumar? Pergunte-me como


Brincadeiras à parte, bastante gente pergunta o que deve fazer para parar de fumar. O que eu fiz não é, necessariamente, o que você deve fazer. Algumas coisas que eu achei fundamentais, vocês talvez não achem, mas acho que na média a gente consegue se entender e chegar a um denominador comum. Parando na força ou com acompanhamento médico, as dicas valem para todos:



Agende-se: para mim foi fundamental uma data para o “vai ou racha”. Planejei cortar os cigarros da manhã e ir diminuindo até parar. Não deu certo. Eu consegui passar um mês me enganando e sem diminuir um cigarro sequer. Então, estabeleci uma data definitiva e me preparei para ela.

Tenha um plano: cortar o cigarro não é nada fácil e os 15 primeiros dias são infernais. Não adianta querer ver na hora o que fazer. Andar sempre com uma garrafa de água, comprar chicletes de nicotina ou adesivos previamente, comprar balas (de preferência sem calorias) e chicletes comuns, preparar palitinhos de cenoura, comprar pepino, chá de camomila. É preciso saber o que fazer quando a vontade insuportável surgir. Faça uma lista e tenha as coisas à mão.

Desassociação: um dos momentos mais complicados. Eu disse para uma amiga, uma vez, que parar de fumar é como terminar aquele relacionamento doentio, que tu racionalmente sabe que só te faz mal, não vai dar em nada, mas que quando menos espera tá nos braços do cara de novo. E como qualquer término tem que ter o ritual de partida: jogue cinzeiros fora, lave roupas, livre-se dos isqueiros, cigarros, tudo que possa te fazer lembrar. Essa também é a hora de perder o hábito, então evite fumódromos, conversas com quem acabou de fumar, mude o horário do café, comece a tomar com leite... Achei esse um dos momentos mais complicados da parada, mas um dos mais necessários. Outra coisa: se você é do tipo que curte um boteco e cerveja, evite por um tempo. Depois de vários copos talvez seu discernimento vá pelo ralo e você esqueça todo o trabalho que passou até agora para parar de fumar. Acho que o ideal é mudar o que você bebe nos primeiros tempos, para evitar sentir saudade da combinação (perfeita) cerveja + cigarro.

Busque um acompanhamento: eu faço acompanhamento com a nutricionista e escrevo este blog. Minha mãe procurou uma pneumologista. Médicos, psicólogos, amigos, enfim, qualquer pessoa com quem você falar sobre o assunto, pedir ajuda, pedir conselhos. Ter alguém que entenda o momento pelo qual se está passando e para quem você possa gritar naquela hora de surto pode fazer a diferença.

Tenha sempre um plano B: é fundamental ter sempre algo para fazer. Eu já fiz faxina às 2h porque não aguentava de vontade. Claro, dê preferência a atividades que não demandem muito raciocínio (porque é impossível se concentrar na crise).

Tente algo novo: que tal começar a correr? Pintar? Dançar? Cantar? Uma nova atividade é sempre um estímulo para continuar.Eu ando tentando correr e tou gostando. Fora que é algo que eu tenho certeza que consigo fazer só porque parei de fumar.

Perdoe-se e saiba recomeçar: deu recaída? Limpe as lágrimas, pare de se lamentar e comece tudo de novo. Cair é normal, saiba se perdoar para estar pronto para começar tudo de novo. E comece tudo de novo.

Premie-se: você está economizando a maior grana parando de fumar. Não custa compensar seu esforço com uma roupa nova, maquiagem nova, perfume novo, ou fazer o caixinha diário para se premiar com uma viagem quando completar seis meses ou um ano de parada. Muito melhor, né?

E aí? O que acham? Todo mundo pronto?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Estou de volta

Sumi, né? Mas não se preocupem, não voltei a fumar. Sumi por causa da correria e por causa dos problemas de domínio desse blog. Agora vocês conseguem vir pra cá pelo www.eupareidefumar.com. Não é lindo? Só que antes de funcionar, passei duas semanas com mensagens de erro rondando a minha vida. Mas vamos aos acontecimentos do período.

Dia 22/4 completei três meses sem cigarro. Comemoro, de verdade. E agora, com cada vez mais naturalidade. Porque ois primeiros tempos, o primeiro mês, tem aquela empolgação de estar conseguindo, mas aquele sentimento de "mataram meu velho amigo" muito presente. Agora não. Cada vez me vejo como uma pessoa que não fuma, que entende porque fumava e que opta por não fazer mais isso.



Outra coisa que aprendi no período é a importância de conseguir se afirmar e tomar o volante da própria vida. Eu não fumo mais porque EU não quero. E saber que estou fazendo algo que partiu de mim para mim é fundamental para sustentar a decisão. Claro que conto com ajuda. Ontem mesmo disse ao namoradão o quanto ele foi fundamental. O quanto aquele "tem que aguentar" pesou. O quanto o abraço forte no meio da madrugada quando eu pensava em levantar para fumar escondido foi decisivo. Porque no início a convicção é fraca, já que a abstinência é grande. Acho que isso faz com o que o apoio das pessoas ao redor seja ainda mais importante.

Ninguém quer vigia, o que precisamos são de estímulos positivos. Que elogiem nosso cheiro, nosso cabelo, nossa pele que ficou melhor. Que elogiem o fato de estarmos segurando firmes, o fato de não termos matado ninguém. Que compreendam as crises de choro, que não falem nada de vez em quando, só nos abracem forte, mostrando que são maiores e melhores companhias que cigarros.

É difícil pra todo mundo. Mas não é impossível. Eu assumi o papel de protagonista da minha vida, do meu corpo, das minhas vontades. Não preciso de cigarro e de nenhuma outra bengala. Preciso, sim, de amor, de companheirismo e de muitos abraços. Como todo mundo.

Tou de volta. Pra ficar.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Quando o passado recente parece muito distante

Não tem nem três meses que eu parei de fumar e já quase me sinto uma veterana no assunto. Relendo os primeiros posts, sinto tudo como se fizesse muito tempo que vivi toda aquela angústia. Conversando com quem parou recentemente de fumar e quem ainda pensa no assunto, tenho a impressão de estar em uma realidade paralela. Toscamente, parece aquele cara especialista em desvendar códigos matemáticos que vê o que os outros ainda não conseguem em um quadro cheio de números. Tudo isso porque este período não foi só de mudança extrema, foi de descobrimento.

Parece que, de repente, entendi como eu funciono. Entendi que o problema não é o cigarro, nem a comida. Entendi que o problema é a ansiedade. Não que eu não soubesse que essas três coisas estivessem associadas, mas de repente isso ficou claro, ficou lógico, ficou exato. Aos poucos, começo a ver de onde vem toda essa ansiedade e é isso que tenho tentado mudar também. Não sinto mais aquela vontade de fumar (e nem penso mais em botar um cigarro na boca) porque não encontro mais desculpas para isso. E é isso que me segura quando a vontade vem. O melhor é que ela vem cada vez mais raramente.

Claro que me dar conta das coisas não garante que eu consiga mudar imediatamente. O que tenho tentado é regular, equilibrar. Quem me conhece sabe que não sou um poço de calma e serenidade (não era antes, não sou agora). A única diferença é que eu escolhi conscientemente parar de fumar, por isto estou tranquila com esta decisão. Também não sou a pessoa mais disciplinada do mundo, mas tenho me esforçado para fazer as coisas acontecerem.



Isso é sempre importante lembrar: nunca é fácil mudar nada, porque com o cigarro seria diferente? Mesmo com medicação, seja durante ou depois, vai ter algum sofrimento, o que não significa que a gente tenha que desistir ou não se esforçar: ao contrário, temos que tentar ainda mais. Mas tentar de coração. Nem sempre a gente consegue, claro, mas antes de desistir ou "cair em tentação" é importante que a gente pare e se questione: - fiz tudo, tudo, tudo que eu podia? - esse é o meu limite?? Eu fiz essas mesmas perguntas para mim mesma várias vezes. Confesso que quando aqueles três minutos de crise de abstinência psicológica batem eu ainda me pergunto a mesma coisa.

Tentar mais faz com que nossos limites sejam ampliados. Isso fica bem claro no esporte. Comecei correndo um minuto e bem leve, hoje corro 20 min com alguns sprints. E, da mesma forma que no esporte, a sensação de conseguir se superar te deixa feliz, sempre mais feliz.

Fundamental também é querer tentar. Não é papinho de autoajuda barata: a gente tem que minimamente querer algo para conseguir. Desejo e esforço juntos são praticamente imbatíveis. Milagres só acontecem quando a gente também faz a nossa parte. É assim em toda a história de superação.

No início parece que fica tudo meio sem graça, a gente não sabe bem como se colocar no mundo, onde nos encaixamos, como é que faz para voltar a se divertir e ser feliz. É quase como aquela dor de cotovelo, levar aquela fora, que parece que a gente nunca mais vai voltar a sorrir de novo. Mas volta. Sempre volta. E a gente chega naquele ponto em que o passado recente parece uma memória distante, quase irreal.

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Aconteceu uma coisa legal que iluminou minha sexta. Inspirado por esse humilde bloguinho, um amigo leitor resolveu também vir pra internet tentar transformar sentimentos em palavras. Quer ler outro blog bem pessoal? Passa aqui no Desabafo do Divã.

O blog foi um importante aliado para Paula, quem sabe escrevendo, assim, sem os olhares críticos, sem os analistas de plantão, consiga desabafar mais. Pensar em voz alta e achar as melhores escolhas. Caminhar um pouco mais rápido nesse processo de autoconhecimento. 

Bem-vindo! Estamos todos prontos para estar contigo nesses momentos de desabafo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Eu paro, tu paras, nós paramos juntos

O maior retorno que esse blog tem me dado é algo que eu não tinha nem imaginado ser possível quando comecei a despejar aqui um monte me medos, sentimentos e ansiedades. O maior retorno, o mais legal, o mais fantástico são as pessoas que me procuram dizendo que tão parando de fumar inspiradas em mim e nessas mal traçadas linhas. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. E vocês não imaginam o tamanho da minha felicidade por isso!

E aí que ontem uma amiga queridíssima e danada de bacana (e magra) tomou a decisão de parar também. Agora assumi uma nova posição nesse processo: não sou eu quem sofre mais, agora sou eu quem apoia. Hoje, primeiro dia dela - o primeiro dia é sempre o pior dos piores - tou junto vivenciando o choro, a mudança de hábitos, a ansiedade, aquela sensação de "não sei se vou aguentar", a tontura, a dor no peito. E essa sensação é terrível. A gente realmente acha que não vai aguentar. E é mais fácil ceder. Sempre. Por isso é tão difícil. Eu lembro de mim mesma. Quase cedi muitas vezes, exatamente do mesmo jeito que cedi quando diminuir antes.

O que, neste caso, fez toda a diferença? Saber que não estou sozinha foi a principal. A segunda foi entender que, sim, sou forte pra dedéu! É isso que minha amiga está começando a entender. Cara, ela acha que não, mas eu sei que a guria tem uma força estupenda que ela esqueceu que tem. Mas tem. Tá ali. E ela tá vendo isso. E vai redescobrir isso. Do mesmo jeito que muita gente que lê esse blog, mas ainda não conseguiu começar esse mesmo desafio.



Hoje dei uma caixa de Nicorette para a minha amiga. Lembra quando falei deles aqui? Engraçado ver que a reação é exatamente a mesma minha: nossa, isso é boooooooooooom! Ela também tava cética, mas os danados fazem efeito. Mesmo.

O primeiro dia é sempre horrível. Mas ele termina. E na hora da vontade incontrolável a gente para, respira, toma água e respira de novo. Se continuar, masca um chicletinho. E assim seguimos. Quando minha dinda parou ela disse que não acendeu um cigarro no segundo dia de raiva por todo o sofrimento que passou no primeiro, que depois de toda a dor não ia colocar tudo fora. O que ela entendeu há 20 anos e eu há quase três meses é que a cada "não" que a gente consegue manter, a gente ganha um "sim, sou muito forte". A gente mostra pro nosso corpo quem é que manda, quem tá nesse volante. E é tri bom saber que somos nós.

Para quem parou hoje, talvez isso não faça muito sentido. Mas espera um tempinho que vai fazer.

E, Vanessa, tamo junto nessa! E, amiga, tu é foda, lembra sempre disso.

Queridos leitores, tamos todos juntos nessa!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

E com a irritação, a gente faz o quê?

Quando eu tava na preparação para o grande dia, ficava bem apreensiva sobre o que fazer da irritação ao parar de fumar. Tinha muito medo de sair por aí com uma escopeta, matando quem por acaso atravessasse meu caminho. O cigarro meio que ficava de bengala pra essas situações: cansei de dar as costas e acender um  quando a minha paciência acabava.

Praticamente um mantra!!!


O mais engraçado nesses mais de dois meses é ver que o que me irritava continua me irritando. Quem me conhece sabe que a paciência em diversas situações não é a maior das minhas virtudes. Mudei com o tempo, claro, mas continuo muito faca-na-bota com uma série de situações, preconceitos, falta de um mínimo de pensamento lógico.

Sabe, tudo isso continua me irritando. Do mesmo jeito. A coisa não aumenta. A gente não perde a linha. Claro que na TPM sai de perto, mas é aquela coisa: para, respira, toma uma água. Vai passar. É sério. E essa sensação vale mais que qualquer outra irritação que venha a surgir no horizonte.

Para. Respira. Toma água. Vai passar. Passou.


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Exercendo o poder sobre a própria janela

Aqui no sul tá começando a ficar friozinho. Friozinho mesmo. Uma das coisas que tenho adorado agora que parei de fumar e que a temperatura começa a baixar é poder fechar a janela de casa. Parece simples e bobo, mas era um poder que eu não tinha antes.



Mesmo tendo sido uma fumante pesada (cerca de 2 carteiras por dia), nunca fui a maior fã do cheiro do cigarro. Acho que ninguém é, né? Por isso, mesmo no inverno, sempre mantive as janelas de casa escancaradas para poder fumar meus 40 cigarrinhos por dia. Nunca suportei muito bem a ideia de fumar em um lugar completamente fechado. Por isso ficava lá na sala de casa no inverno tiritando de frio, mas fumando meu cigarrinho. Muitas vezes as visitas faziam cara feia, mas ninguém queria ficar num lugar de janela fechada com a fumante a todo vapor.

Agora que completo 2 meses e 15 dias sem cigarro me alegro de poder assumir o controle sobre as minhas janelas de volta. Adoro pensar que quando estiver muito mais frio do que está agora vou poder simplesmente levantar e fechar a janela sem peso na consciência nenhum, já que o cheirinho da minha casa agora é limpo, bom, receptivo!

E vocês, como andam?

Tamo junto, hein?

sexta-feira, 30 de março de 2012

Responsabilidades e dicas

Ninguém é invencível. Ninguém é obrigado a ser forte o tempo inteiro. Ninguém precisa fazer tudo sozinho. Ninguém precisa trilhar os mesmos caminhos que os outros já trilharam.

Desde que decidi começar este blog, desabafando, contando minhas agruras, assumi novas responsabilidades. Responsabilidades que tenho adorado, mas que ao mesmo tempo pesam. Recebo emails de várias partes do Brasil, e até Portugal, de pessoas que contam suas histórias, suas angústias. Elas dividem comigo isso e eu me sinto lisonjeada em poder ser parte. Ao mesmo tempo, me pedem conselhos sobre o que fazer para não acender o próximo cigarro. Tem gente que coloca em mim a responsabilidade de não acender o próximo - e essa é a parte que me assusta.



Eu não tenho fórmula secreta. Não existe fórmula secreta. A maneira com a qual as pessoas lidam com seus medos, vontades e ansiedades muda de cabeça pra cabeça. Aqui eu conto o que eu fiz, o que eu vi, o que eu senti. Ninguém precisa fazer o mesmo, de forma alguma. Se o tranco tá muito duro e o fardo muito pesado, vai ao médico e pede um medicamento. Eles não são a solução definitiva, mas nos ajudam naquele empurrão inicial. As dicas existem e a gente tenta seguir se ajudando. O que eu fiz e faço:

- tomo água (muita água)
- paro e respiro fundo
- arrumo outra coisa pra fazer (já aconteceu de começar a fazer faxina às 2h, mas logo cansei, esqueci o cigarro e dormi)
- como pepino em conserva (ou palmito, ou minimilho, ou ovo de codorna)
- chiclete de nicotina (o danado é bom!)
- chiclete comum - é o que tenho usado no momento
- ter sempre um lápis ou caneta na mão pra quando der falta do danado entre os dedos
- cigarro eletrônico (merece um post a parte. não é bem igual, mas disfarça)
- narguilé - não fumo, mas tem gente que aproveita pra matar a vontade de fumaça com aqueles fumos de frutas. Como é forte, o fumo é caro e o aparelho pouco prático, acontece do povo usar só vez que outra
- adesivo - não usei, mas dizem que o efeito é parecido com o chiclete. só cuidem com a quantidade, pois é bem perigoso.

Mas lembrem-se: se o sofrimento for demais mesmo, não hesite em procurar um médico e conseguir mais ajuda nessa parada!
Tamos aí!


quarta-feira, 28 de março de 2012

Qual seria a desculpa perfeita para voltar a fumar?

Nem sempre a vida é um mar de rosas. Nem sempre a gente acorda alegre. Nem sempre as coisas acontecem como queremos. Nem sempre somos felizes e confiantes. Nem sempre as coisas dão certo. Ontem fiquei pensando: o que seria ruim o bastante para me dar motivo suficiente para voltar a fumar?

Uma queridíssima amiga disse que voltou quando terminou com o namorado e a avó ficou doente. Isso me fez pensar em se existe sofrimento tão grande que justifique o retorno ao vício. Conheço muitas outras histórias de recaída: mortes, perdas, tristezas, estresses. Passamos por tantos momentos de vulnerabilidade que fica difícil até enumerar todos os possíveis.

Sonhei que eu sofria muito. Isso me causava uma dor lancinante. Sensação de estar sem chão, sem vida, um grande vazio. Chorava muito. Sabe dor? Sabe vazio? Era isso. E me corroia. E quando eu acordei, o que mais estranhei em tudo que pensei enquanto sofria - e de tudo, tudo mesmo, passou pela minha cabeça - era que não havia pensado em acender um cigarro. Será que sou assim tão forte?

Na biografia do Eric Clapton (quem não leu ainda, corre) ele fala muito sobre as múltiplas desintoxicações. Ele conta que na saída de uma reunião do AA, a reunião em que ele falava sobre a morte do filho Connor - que tinha 4 anos e caiu da sacada do apartamento - uma mulher veio falar com ele. Ela disse que o fato dele ter permanecido sóbrio após a morte de um filho acabava com a única desculpa que ela guardava para si, internamente, para voltar a beber.




Acho terrível sair julgando fraquezas. A dor tem um efeito diferente em cada pessoa. Mas é legal refletir se no fim é fraqueza, ou só desculpa interna, nossa, íntima, inconfessável, que guardamos pra matar a saudade do vício antigo. Acho que logo que a gente para de fumar essa lista é imensa. Aos poucos ela vai diminuindo, conforme vamos nos fortalecendo. Não sei. Mas no momento em que reli aquela frase, pensei a mesma coisa: não tenho mais desculpa nenhuma para voltar a fumar. And I feel fine.

terça-feira, 27 de março de 2012

Daquelas conversas

Aí você tá sentada na praça, bem de boa, conversando com sua amiga que está fumando. Chega um ex-colega de trabalho que não via há tempos.

- Me dá um cigarro?
- Não rola. Parei de fumar.
- Eu também!!!
- ?!?!
- Mas de vez em quando eu fumo.
- Então tu não parou de fumar.
- Parei, sim!
- ahan...
- Claro! É só de vez em quando! O que tu faz quando tem vontade de fumar?
- Eu espero passar.
- Ah bom, eu fumo. Mas parei de fumar. Sério.



Como dar crédito, não é mesmo. Por isso que digo que detesto ex-fumante que continua no ritmo "semedão".

segunda-feira, 26 de março de 2012

A arte do desapego

Parar de fumar não faz com que apenas paremos com o hábito de colocar um cigarrinho na boca e sair fazendo fumaça. Parar de fumar muitas vezes significa mudar de hábitos, de itinerário, perder alguns contatos. Eu, por exemplo, fazia um determinado caminho até o trabalho pra passar pelo mercadinho que aceitava cartão de débito na venda do cigarro. Atitude normal de quem se livra de qualquer vício. O cara que é alcoólatra em recuperação não vai mais ao mesmo bar todos os dias, sair com os mesmos amigos. A menina que perdeu 50kg não vai mais à mesma confeitaria que ia diariamente comprar duas fatias de torta com chocolate quente. Não adianta. Não dá mais. Não combina. A gente se desencaixa desse mundo (por mais que sinta falta).



Nesse momento em que parei, deixei de frequentar o fumódromo aqui do trampo. Pra quem não sabe, o fumódromo normalmente é um lugar a céu aberto ou insalubremente fechado onde os fumantes se amontoam pra fazer fumaça. Olha, já tive em fumódromos de todos os tipos, desde os mais hitech que possuíam um sistema de filtros fantástico que fazia com que o lugar não tivesse nem cheiro de cigarro, até os 2mx2m, absurdamente enfumaçados, hermeticamente fechados onde tu te sente até humilhado de só poder fumar ali. Mas paciência. Quando a gente fuma, a gente aguenta. Não sinto nenhuma falta do fumódromo do meu trabalho atual. Ainda bem. É mais fácil evitar aquele lugar, aquele caminho, aquelas pessoas e aquelas conversas, quando elas já não faziam muita falta antes.

Trabalhei em um lugar onde nem sempre as coisas eram assim. Era um fumódromo chinelão. Só não era mais insalubre por falta de espaço. Na real, acho que o quesito insalubridade sempre fica de fora quando o engenheiro pensa em um fumódromo. Cara deve pensar: pô, tão indo lá pra fazer algo insalubre, para quê querem um ambiente agradável, não é mesmo? Entretanto, mesmo sendo uó, a gente ia e fazia questão de sentar só pra poder ouvir histórias de um tempo em que o jornalismo era menos chato, burocrático e preguiçoso. Adorava ficar lá ouvindo todas aquelas histórias daquelas pessoas interessantíssimas. Agora em que penso no desapego de frequentar um fumódromo, penso em como é bom desapegar de algo que não tinha atrativos e não de lugares bagaceiros como aquele, mas cheio de boas histórias pra escutar.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Feliz 2 meses pra mim

Quando essa história começou até eu duvidei que conseguiria. Afinal, era muito tempo fumando muito. O direito da dúvida era mais que legítimo. A cena em que eu estava sentada com um copo de cerveja na mão chorando, naquele primeiro dia, ilustra bem isso. Desde aquele momento, encarei cada crise de abstinência de frente, contando sempre com o apoio e ajuda das pessoas amadas que me cercam.



Pode soar clichê, mas sem o apoio das pessoas queridas da minha vida, acho que teria desistido. Cada "valeu", "firme", "isso aí", "não desiste" tem um peso enorme na tarefa de manter a decisão. E mesmo sabendo que todas essas pessoas poderiam ficar desapontadas se eu voltasse a fumar, EU sou a razão maior para não voltar. É a mim que eu não posso desapontar. Acho fundamental tomar as decisões certas pelos motivos certos. É por mim que parei. Se não fosse assim, teria sempre uma desculpa para voltar. Agora não tenho.

Outra coisa que me deixou muito feliz nos últimos dois meses foi poder inspirar pessoas. Tem gente que eu gosto muito parando de fumar porque entrou nessa mesma onda boa. Tem gente que eu não conheço que me escreve dizendo que ler o blog tem sido importante para parar de fumar. Quando eu poderia imaginar uma coisa dessas dois meses atrás chorando com um copo de cerveja na mão?

Parar de fumar tem sido uma experiência especial. E que os próximos meses continuem leves e com todos vocês por perto. Afinal, que graça tem comemorar aniversário sozinha, né?

Feliz dois meses!
\o/

terça-feira, 13 de março de 2012

Pedrinho e o lobo

Tanta história que nos contam quando somos crianças, né? Adorava todas, até mesmo aquelas que eu achava mais babaquinhas. Um que não me contaram, mas aprendi com o seriado Chaves e Chapolin (amor eterno) é a história de Pedrinho e o Lobo, usada para ilustrar a história de um menino (a Chiquinha, adorooo) deveras mentiroso...



Não sou o Pedrinho. Não sou o Lobo (também não sou a Chiquinha). Mas senti na pele a desconfiança que todos passaram a ter de Pedrinho.

Tenho tentando ser uma ex-fumante do bem. Tou convivendo na boa com quem fuma, numa boa mesmo. Consigo sentar na mesma mesa de bar, colega que fuma do meu lado indo almoçar, encaro tudo numa boa mesmo. Eu sinto o cheiro do cigarro, claro. Mas tenho a impressão de que é algo que já não me pertence, não faz parte mais de mim. Viajo muito quando o povo tá fumando do meu lado. Penso em como era, o que eu faria, mas, ao mesmo tempo, parece que era com outra pessoa, outra Paula. Lembranças de um passado distante.

Enfim, tudo isso para dizer que convivo com fumantes. Se eu fosse não fumante diriam "ih, andou com aquela tua amiga que fuma de novo?". Como sou ex-fumante dizem "tu andou fumando? teve recaída? tem certeza? pode falar".

Nessa hora sou Pedrinho. E não gosto nem um pouco disso.


terça-feira, 6 de março de 2012

Ah, os vícios

1 mês e 13 dias sem fumar e tá tudo sob controle. Mesmo. Não tou nem perto de ser uma ex-fumante: tenho muito caminho a trilhar como fumante em recuperação. O melhor de tudo é que não estou sofrendo. E é sobre isso que queria falar hoje.



Minha mãe, que também parou de fumar, comentou com a pneumologista dela que eu parei de fumar sem tomar absolutamente nada e o quanto ela me admirava por isso. Em vez de um elogio pela coragem, veio uma enxurrada de críticas, de que as pessoas não devem tomar este tipo de atitude sem acompanhamento médico e sem medicamentos. Confesso: fiquei indignada. Dois motivos.

O primeiro é que eu tenho a impressão de que os médicos se preocupam cada vez menos com a saúde da gente e mais em paliativos imediatos. Mesmo com toda essa onda "viva bem, seja saudável", eles insistem em tratar os sintomas do momento, não em uma reeducação que terá reflexo em toda a sua saúde. Não falo isso só por causa da pneumo: o cardiologista do meu namorado aparece com um remédio diferente por mês pra ele tomar, mas não encaminhou para um tratamento, não mandou fazer exercícios, diminuir a cerveja, modificar alimentação. O cara apenas recomenda um remédio diferente por mês para pressão e colesterol (isso que com o índice dele, maneirando um mês já volta ao normal). Sei que os remédios são invenções maravilhosas. Papai do céu sabe o quando eu já defendi o uso de alopatia, uma das maiores evolução nessa vidinha, principalmente quando médico me mandava tomar água quente pra curar uma puta amigdalite. Acho tri mesmo. Mas isso não justifica tomar tanto remédio sem necessidade. E aí entro no segundo ponto.

A médica não acredita que eu não esteja sofrendo. Gente, claro que sofro, cigarro faz falta. Mas não sofro mais do que sofria por não comer lasanha e maionese batida a mão todos os dias (ai que fome!). Tem gente que confunde tristeza e depressão. Bom, do mesmo jeito existem sofrimentos e sofrimentos. A gente não precisa de anti-depressivo para qualquer tranco que a vida dá. Não dá pra querer ser mais feliz o tempo inteiro à custa de comprimido. Tá doente? Toma. Precisa de um impulso porque senão não vai rolar parar de fumar? Toma. Acho justo, muito justo, justíssimo. Tem gente que tá tomando remédio + anti-depressivo + adesivo e sofre muitíssimo mais que eu. Da mesma forma que nenhum remédio garante a ausência de recaídas, outro dos argumentos dela para a necessidade de medicamentos.

Eu tou bem. Eu tou tranquila. Eu parei em um momento que tava autoconfiante. Eu acreditei que conseguiria. Conheço várias pessoas que querem parar e acham que não conseguem, mas são pessoas tão fortes, tão guerreiras, que eu tenho certeza que também conseguiriam, mas que não tão no mesmo momento de autoconfiança. Eu também não estava. Não tenho como garantir que nunca terei uma recaída. Não tenho mesmo, já que a gente muda o tempo inteiro. Mas garanto que não quero, que cheguei no ponto em que não me imagino mais com um cigarro na mão. Quero continuar com essa imagem na cabeça. Isso tem me feito muito bem.

Não acho, nem defendo, que todo mundo deve parar sem nada. De maneira nenhuma. Eu estou conseguindo. Outras pessoas conseguiram. Muitas outras, não. Nem todos estão no mesmo momento na vida. Mas defendo, sim, que as pessoas precisam, uma hora ou outra, com medicação ao não, tentar. Só tentando a gente consegue ter a chance de vencer.

Um dia de cada vez...

quinta-feira, 1 de março de 2012

3 minutos



Em três minutos dá pra fazer um bolo na caneca no micro-ondas.
Em três minutos leio duas páginas e meia de um livro (de repente até três).
Em três minutos eu consigo ser mais cruel que imagino e dizer coisas horríveis, morrendo de raiva.
Em três minutos essa mesma fúria passa e eu nunca entendo porquê as pessoas tão brabas comigo.
Tem médico que defende que três minutos de exercícios são suficientes.
Três minutos sem ar, morremos (a menos que você seja campeão mundial de apneia).
Em três minutos dá pra fazer um lámen.
Encarar um belo sorriso por três minutos, pode mudar seu dia.
Dá pra se apaixonar em três minutos.
Dá pra se desiludir em três minutos.
Dá pra mudar a vida em três minutos.
Três minutos.
O tempo não passa.
Três minutos. 180 segundos.
Esse é o tempo exato das crises de abstinência, que, pelo que li por ali, ainda acontecem esporadicamente por um ano.
Três minutos pra resistir.
Só três minutos.
Mas pela quantidade de coisas que se é capaz de fazer em três minutos, três minutos podem durar uma eternidade.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Tipos de ex-fumante


Sempre que pensava em parar de fumar, me preocupava com que tipo de ex-fumante eu seria. Tem a coisa da irritação da parada e a vontade que deixa (nunca se sabe a que nível pode chegar o instinto assassino), que faz com que tenhamos as mais diversas reações - reações estas que podem encher, e muito, o saco das outras pessoas. Pensando agora, lembrei de alguns tipos. Vê se não é bem assim:

- Ex-fumante evangelizador do apocalipse: traz ao mundo a mensagem de que você, fumante, vai morrer. E vai tentar convencê-lo - insistentemente - de que a única alternativa é parar de fumar. Aliás, esta será a única coisa que este tipo de ex-fumante consegue falar.

- Ex-fumante ventilador: enquanto fumava, fumegava pelas ruas mais do que carro a álcool no inverno. Agora que parou, passa o tempo todo na rua abanando a mãozinha e achando um absurdo autorizarem pessoas a fumar na rua.

- Ex-fumante talibã: todos aqueles que fumam são impuros e merecem o fogo do inferno. E merecem toda a sorte de infortúnios e proibições em prédios públicos, restaurantes, bares, calçadas e qualquer outro lugar dentro da atmosfera terrestre.

- Ex-fumante hermitão: aquele que não entende bem como fica sua relação com os outros e com o mundo depois de parar de fumar. Enquanto tenta entender, se dedica ao isolamento total.

- Ex-fumante saúde-é-o-que-interessa-o-resto-não-tem-pressa: Aquele que parou de fumar, parou de comer gordura trans, parou de beber, parou de tomar café e aboliu o açúcar e a coca-cola, e dedica todas as horas que não está no trabalho a praticar esportes de alto impacto. É outro que não é visto facilmente na rua e seu próximo passo é o veganismo.

- Ex-fumante aprecie com moderação: é aquele que parou de fumar, mas com moderação. Por isso, fuma um (careta) de vez em quando e adora discursar sobre as maravilhas de parar de fumar.

Juro, sempre tive medo destes tipos de ex-fumantes. Sempre achei todos estes verdadeiros chatos de galochas e tinha calafrios pensando que poderia me tornar um deles. Sempre acreditei na necessidade do equilíbrio nessas horas, no preparo da cabeça para que o resto do mundo ao redor não sofra as consequências de uma decisão que foi só sua, só minha. Tenho conseguido beber sem vontade de fumar. Tenho conseguido sair na rua com fumantes, conviver com pessoas fumando ao meu lado sem sofrer, sem precisar ficar me abanando (acho uó) e sem necessidade nenhuma de discursinho.

Antes de parar de fumar eu sabia de todos os malefícios do cigarro. Da mesma forma, todos os fumantes do mundo sabem que cigarro faz mal. Não há necessidade nenhuma de ficar tentando convencer ninguém a fazer nada. Quando a pessoa acha que deve parar, ela começa o processo de parada. E este processo sempre é diferente para todo mundo.

Ah, e se decidiu parar e precisa de um apoio, conte comigo!




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O dia da independência

Não lembro o que acontecia na minha vida quando fez um mês que comecei a fumar. Para ver como certas coisas não são marcantes assim na vida. Em compensação, lembro muito bem o que decidi no dia 22/1. Lembro da sensação de acordar de ressaca, da dúvida constante - será? será? será? -, da vontade insuportável, dos acordos comigo mesma - vamos ficar só mais um pouco na cama pra não ter vontade de fumar -, do choro quando vi que não tinha mais como voltar atrás e o jeito era segurar a vontade, do namoradão dizendo "tem que aguentar".

Continuo na luta esquizofrênica diária para me manter longe do cigarro. Sim, porque o ex-fumante recente escuta vozes. De verdade. "Fuma só um. Um só não faz mal. Lembra que dizem que grávida pode fumar até três? Se não faz mal pra grávida, não faz mal pra ti". "Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não". É assim o tempo todo. Vozes. Nãos.

Um mês depois eu consegui parar de roer as unhas, voltei pros eixos com a comida, meu fôlego já me permite correr 20 minutos e melhorei outras coisas que nem achei que melhorariam. Já consigo tomar cerveja sem sentir aquela vontade insuportável de fumar e não dependo mais dos chicletes de nicotina. Ainda quero sentir os efeitos na pele (por enquanto ela continua igualzinha) e poder usar todo o potencial do meu fôlego.

Adoro voltar pra casa sem precisar ver se ainda tem cigarro (pq deusulivre ficar sem), adoro não precisar ir comprar cigarro antes de ir a algum lugar porque sei que lá não tem para vender. Adoro não ficar irritada porque escolheram um bar que não dá pra fumar (e que não tem área externa próxima onde dê). Adoro não precisar catar as moedas dentro de casa porque faltou dinheiro pro cigarro. Adoro não precisar trocar de roupa ou bolsa porque não tem lugar para guardar o cigarro.

Certas datas são bem marcantes. E o 22/1 virou uma dessas datas que nunca saem da cabeça.

22 de janeiro de 2011, o dia em que declarei independência.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Aproveitando todo o fôlego

Apesar de adorar esportes na época da escola, detestava correr. Sempre detestei. Depois que virei fumante, então, aí esquece. Depois que assumi o cigarro e o sedentarismo, Rá! Não dava mais um passo.

Sempre disse que eu apenas pararia de fumar o dia em que eu soubesse que estava grávida ou com câncer. Dura, chata, grossa, mas era o meu jeito de cortar a patrulha antitabagista (principalmente pós-Dr. Chato Varella). Detestava ter que ficar me justificando, ainda mais pra gente não era diretamente prejudicada pelo meu vício (e, na real, pouco tinham a ver com a minha vida). Quando parei de fumar, inclusive, teve gente perguntando se eu tava grávida. Não, não tou.

Mas eu falava aquilo meio que sabendo que precisaria de uma motivação pra parar de fumar. Não conseguia conceber como a pessoa parava do nada, out of the blue! Pra mim era muito fácil aceitar que, por um motivo maior - no caso da gravidez - tu faça o esforço de parar. Claro, a cabeça mudou, aceitei que era a hora de parar, mas queria uma motivação. Já que não dá pra ficar grávida ainda, fiquei pensando em algo que eu pudesse fazer só porque parei de fumar. Daí veio a ideia de correr.



Fico rindo sozinha quando volto das corridas, porque me parece tão absurdo e irônico EU correndo, que só rindo. Mas vamos lá, tou tentando. No início caminhava 10min e corria 1min (e terminava esses 60 segundos botando o pulmão pra fora), passei para 2min de corrida e 8min de caminhada, agora estou conseguindo correr 5min e caminhar 5min.

Não virei atleta. Não é nada de mais, se parar pra pensar. Não consigo ainda nem correr 10 min seguidos. Mas é uma vitória. É uma motivação. Poder aproveitar todo o meu fôlego. Muito bom.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Boca com gostinho bom

Sempre achei fumar uma delícia, mas eu tinha minhas chatices. Detestava o cheiro que deixava nas roupas, cabelo e aquele tom amarelado no dedo indicador da mão direita (sim, aquele amarelo de segurar o cigarro). Os esmaltes mais claros, por exemplo, estavam completamente abolidos, já que ficavam horrorosos por causa do cigarro. Outra coisa que eu tentava manter em dia era o bafinho. Porque, vamcombiná, ninguém merece bafo de cigarro, né? Meu namorado nunca foi um grande fumante (acho que fumava mais por minha causa do que qualquer outra coisa), às vezes passava semanas sem botar um cigarro na boca. Mesmo que eu tivesse alguns cuidados pra não deixar bafo, seguido ele reclamava. Isso sempre me chateou.

Claro que entendo o lado dele, nem eu, que fumava, gostava do cheiro ou do bafinho que deixava na boca. Isso era uma das boas perspectivas de deixar de fumar: ter o meu perfume durando mais tempo, os dedos sem as manchas, hálito impecável.

Ontem de madrugada o namoradão e eu acordamos meio do nada e começamos a falar. Fiquei muito feliz quando ele disse que estava orgulhoso de mim, pela perseverança e força de vontade. E amei mais ainda quando ele disse "mas bom mesmo é poder te beijar a qualquer hora, qualquer momento, sem aquele bafinho. o beijo que era ótimo, ficou perfeito". Sério, é muito amor pela parada.

22º dia and counting...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Aquele com a consulta na nutricionista

Não basta parar de fumar: a pinta quer emagrecer, ter a melhor pele do mundo e unhão! O ser humano pode (e é) ser um eterno insatisfeito, mas pouca gente realmente tira a bunda do sofá pra fazer algo a respeito. Eu ando integrando o grupo de "gente que faz": quero, sim, não fumar mais, quero, sim, emagrecer e quero, sim, todo o resto! E estou fazendo algo a respeito.

Fui na nutricionista (também conhecida como a nutri querida) hoje de novo. Eu já esperava o péssimo resultado da pesagem. Parar de fumar está sendo muito mais tranquilo do que eu imaginava, mas é ÓBVIO que eu tenho meus momentos de ansiedade (e compulsão). Uma tia aqui do trabalho veio me dizer que a gente come mais porque sente mais o gosto da comida. Pfffffffff! Eu como mais porque... como mais, porque sou ansiosa, porque gosto de comer, porque cada um arranja alguma coisa para descarregar. Sinceramente, não noto diferença nenhuma no paladar. A comida continua com o mesmo gosto (isso que continuo comendo nos mesmos lugares ou cozinhando), e eu com o mesmo gosto que sempre tive pela comida.

O estrago foi, oficialmente, de 800g (muito bom, ainda mais levando em conta que eu não andava comportada na dieta durante todo o mês de janeiro). Tenho a nutri querida como um ponto de referência, um "porto seguro" no meio de tantas mudanças. Quando vou lá posso conversar, respirar e começar tudo de novo. Isso é essencial pra mim. Sim, engordei um pouco, mas não desisti. E ela não desistiu de mim: me passou uma série de orientações e truques pra vencer essa primeira fase da parada e não regredir, depois de um monte de peso perdido (e um fígado recuperado).

17º dia. Firme. Tristinha, mas desafiada. Vambora.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Feliz 15 dias

Então. 15 dias. E tudo ainda é meio paradoxal. 15 dias que passaram voando, mas ao mesmo tempo se arrastaram. 15 dias que foram muito mais fáceis do que eu imaginava, mas ao mesmo tempo sofri pra caralho. 15 dias e eu ainda não senti nenhum dos benefícios de parar de fumar, mas nem por isso desisti. 15 dias em que eu tou calma, mas ansiosa ao mesmo tempo. 15 dias em que eu revezo o pensamento "porque eu fumava mesmo" com "daria meu rim por um cigarro. 15 dias em que perco o foco e me concentro pra caralho.

Assim tem sido e assim será. Ad aeternum, já que é consenso entre todo mundo que parou de fumar que a vontade nunca desaparece. Espero apenas poder sair da fase ansiosa e deixar minha balança e as unhas em paz.

15... mó tempão, hein?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Gotas de sabedoria por Ernest Hemingway

"Quando decidi abandonar os hipódromos, fiquei a um só tempo alegre e com uma sensação de vazio. Já sabia, então, que qualquer coisa - boa ou má - deixa um vazio quando acaba. Se era má, o vazio se enche por si mesmo. Se era boa, só se poderia enchê-lo encontrando alguma coisa melhor"
Ernest Hemingway, em Paris é uma festa

Quando comecei com essa história de parar de fumar, lembrei direto deste trecho do livro Paris é uma festa, do Hemingway. O livro é autobiográfico e conta o período que o (então jovem) escritor morou numa Paris que fervilhava arte. Como o processo de abandono de um vício é semelhante, achei apropriadíssimo aquele trecho em que ele descreve a "desintoxicação" das corridas de cavalo. Sim, o vazio é o mesmo. Ainda não descobri se era uma coisa "boa ou má". Em certos momentos, esqueço completamente do cigarro, principalmente durante o expediente. Nesse horário, digamos que o vazio se encheu por si mesmo. O bicho anda pegando mesmo à noite, quando estou sozinha em casa e minha companhia silenciosa me faz realmente falta.

Ontem conversava com a mãe, que também parou de fumar recentemente, sobre esta relação. Desintoxicar é saber dizer não pra nós mesmos, o tempo inteiro. Acho que decidi parar num bom momento, me sinto bem, me sinto em harmonia, como diz minha mãe. Em outros momentos da vida eu não seria capaz de dizer tantos "nãos" sem pirar. No fim, tudo aconteceu no momento em que devia acontecer. Agora o jeito é encontrar uma maneira de preencher aquele vazio que o Hemingway fala, para conseguir frear esses impulsos do cigarrinho-companhia.

Hoje faz 10 dias que parei. Tem sido um período de muitas descobertas e aprendizado, principalmente por causa deste blog. Escrever sobre o assunto tem me feito muito bem, receber emails com histórias e apoios de gente que parou, pensa em parar ou está parando de fumar é muito recompensante.

Parabéns pra todos nós!

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Não quero fórmula secreta

Esse blog, no fim das contas, é minha terapia nessa nova fase. É a certeza do desabafo sem olhares mais críticos (a dinâmica é ótima: eu escrevo, vocês leem, eu não vejo vocês lendo). Porque eu sei que existe muita crítica. Sei que tem gente que fala: "ah, mas ela tá exagerando!", "pobrezinha, será que precisamos internar?", "dramaqueen". Não adianta, o julgamento é inerente ao ser humano. Juro que entendo.

Noto isso tudo quando converso pessoalmente sobre o assunto. Todo mundo tem um pitaco. Todo mundo (especialmente quem nunca fumou na vida) tem a melhor fórmula, entende todas as reações... Impressionante a quantidade de especialistas sobre o assunto que temos aí fora. Sei que no fundo todo mundo só quer ajudar, mas gente, sério, vocês não precisam ter opinião e fórmula pra tudo nessa vida.

Gosto da Sol, queridíssima ascensorista ali do meu trabalho, com quem sempre bato altos papos do térreo ao 10º andar. Ela também era fumante, faz 12 anos que parou. Ela me olha e pergunta: "Firme?". "Firme". Pronto, podemos conversar sobre qualquer outra coisa. Ninguém precisa me passar fórmula secreta, dizer quando a vontade de fumar passa de vez, o que fazer com a minha irritação, ou que o Dr. Chato Varella falou quando passou aquela série. Basta um "Firme?", que me passa o quanto se importam, o quanto me apoiam e o quanto tão comigo nessa. Muito melhor que qualquer fórmula secreta.

Juro.

E aí? Firmes?

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Aquele com o sonho esquisito

Ando meio sem criatividade para títulos, por isto estou usando o "método Friends de produção de títulos". Explicado isto, vamos à história.


Como todo mundo, costumo sonhar regularmente. Agora, não-como-todo-mundo, costumo lembrar dos meus sonhos. Alguns são tão reais que machucam (mesmo). Esses dias meu namorado me acordou pedindo que eu parasse de chutá-lo. É que eu estava sonhando que estava sendo assaltada e estava reagindo ao assalto (nunca façam isso acordados, por favor). Outra vez foi com a minha mãe. Estava dormindo com ela e acordei dando vários socos. Tudo culpa de uma briga de rua em que eu tinha me metido no sonho. 

Alguns sonhos são tão reais que quando acordo tenho uma certa dificuldade em me situar, saber onde estou. Algumas vezes, por serem muito bons, dá uma tristeza profunda por ter acordado. Outros, naqueles sonhos ao melhor estilo "A Hora do Pesadelo", um grande alívio. Eu já esperava que isso fosse acontecer. Uma hora eu ia sonhar com cigarro, não ia ter jeito. Até achei que demorou.

Estava andando na rua, num lugar que parecia perto da casa da minha mãe, mas por algum motivo que desconheço, todo mundo que trabalha comigo também andava por lá. Do nada me perguntaram: "Voltou a fumar?" Lembro que fiquei muito perturbada com a pergunta, quando apontaram para a minha mão. Eu tinha uma carteira de cigarro aberta. E essa sensação de perturbação aumentou, pois eu não fazia ideia de como aquele maço de cigarros tinha ido parar na minha mão e, muito menos, porque faltavam alguns cigarros. 

Me lembro de negar que eu havia fumado e tentei explicar que eu não fazia ideia de como aquilo tinha acontecido. Nisso, meus colegas de trabalho começaram a bater nas minhas costas e a dizer que não tinha problema, todo mundo entendia porque eu tinha voltado a fumar. Eu lembro de ter ficado ainda mais confusa, pois tinha certeza que não tinha fumado. Quando comecei a gritar com todo mundo que eu não havia fumado e que eles estavam loucos, acordei. De novo aquela sensação de "onde estou" me rondou até que veio o alívio por saber que nada daquilo foi verdade. Ufa!



domingo, 29 de janeiro de 2012

Aquele com as múltiplas tentações

Existem certas situações que foram feitas para o cigarro. Uma situação de estresse extremo por exemplo: nela o cigarro cai como uma luva, te acalmando de algo que pareceu bem grave. Outra combinação perfeita com o cigarro é a cervejinha gelada. Vai dizer: tem melhor que sentar num boteco com uma gelada na mão e um cigarrinho na outra? Quem já fumou sabe como é bom. E se essas duas situações acontecerem no mesmo dia, com intervalo de poucas horas. É aí que entra a força de vontade de parar de fumar.

Estava indo encontrar uma grande amiga pruma saidinha básica. Eu já tinha em mente que seria difícil, mas como essa amiga é uma fumante eventual (e eu sempre fui uma grande fornecedora), achei que não seria um grande problema. Entrei no táxi e fui encarar esta. Como costumo ir a este lugar, sei quanto dá de táxi. O taxímetro rodava em velocidade de bandeira 2, mas marcava bandeira 1. O trajeto costumava dar entre R$8 e R$9. Ainda faltava um bom pedaço e o troço já tinha passado dos R$ 10. Eu tinha certeza de que estava sendo enganada e que aquele taxímetro estava adulterado. Procurei e não vi aquele selinho do inmetro que muitos trazem. Insinuei isto com o taxista e ele começou a me ofender, dizendo que eu estava insinuando a fraude porque eu não tinha dinheiro para pagar. Fiquei irada e mandei ele parar. Entreguei o dinheiro no valor que a corrida tinha dado até então. Mostrei que eu tinha dinheiro na carteira e que se ele era um ladrão, era problema dele, que eu não ia ficar ali bancando a idiota mais nem um minuto. Saí do carro e ele começou a me xingar. Chamei de ladrão e dobrei a esquina. Quando vi, o homem estava atrás de mim. Disse que tinha me marcado e que ia me pegar. Mandei a putaquepariu, mas nisso eu já tremia da cabeça aos pés. Afinal, taxista quando dá pra ser bandido, sai de perto. Eu só não tremia mais porque faltava corpo. Nunca imaginei passar por uma situação dessas numa quinta à noite. Alguém passou fumando do meu lado. Senti aquele cheiro e pensei que fumaria uns cinco cigarros numa só sentada. Mas passou. Cheguei no lugar onde tinha marcado com a minha amiga. Ela e outra amiga estavam sentadas fumando. Pensei de novo naqueles cinco cigarros do estresse. Respirei fundo. Tomei uma água. Passou.

Segunda tentação da noite: a própria noite. O show que assistimos tava tranquilo, afinal, não se pode mais fumar dentro de lugar nenhum. O problema foi depois do show. Encontramos outra amigona, que fuma mais do que eu fumava, e fomos para o bar de um amigo dela, território livre para o cigarro. É, aqui que a porca torce o rabo. A ceva tava gelada, a gente já tava meio bebum, e o cigarro parecia cada vez mais apetitoso. Aqui não teve jeito, tive que apelar para o chiclete de nicotina. Precisei de dois nessa noite. Mas consegui, resisti às tentações.

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Hoje, domingo, completo minha primeira semana, meu oitavo dia, sem cigarro. Desde sexta-feira que não uso os chicletes e continuo me sentindo bem. Ainda tenho vários impulsos de levantar e pegar um cigarro, mas a frequência tem sido muito menor. Dizem que as duas primeiras semanas são as piores. A primeira já foi. Que venha a próxima. Tou pronta.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Aquele com o vizinho que fumava no elevador

Esta patrulha antitabagista é um baita pé no saco, mas confesso que tenho achado conveniente. É mais fácil, de fato, não pirar pensando em cigarro quando se vive num mundo em que não se fuma. Não adianta, quanto mais vejo as pessoas fumando, mais vontade tenho de fumar. É inevitável.

Ontem estava falando com uma amiga que está em Pequim e também está colocando o parar de fumar como meta do ano. De repente lembrei de como são as coisas por lá e agradeci por ter tomado esta decisão aqui. Explico. A China em geral é o paraíso dos fumantes. Se fuma muito e em todos os lugares. Todos mesmo. Eu era recém-chegada à cidade, quando, no elevador do prédio, um vizinho acende um cigarro. Sim, camaradas, dentro do elevador do prédio. E ele nem ficou vermelho, ou fez cara de criança que sabia que tava fazendo coisa errada. Nada disso. Para o vizinho chinesão era normal fumar no elevador.

Da mesma forma, é normal fumar em restaurantes. Não há nem uma divisão no salão para fumantes e não fumantes. As pessoas fumam antes de comer, depois de comer e, alguns, durante a comida. Até pra mim, uma fumante compulsiva, aquilo era too much. Ao mesmo tempo, me sentia confortável. Eu não precisava ir pra rua pitar e voltar pra cervejinha gelada, como aqui, não precisava me esconder em algum canto, ou em semanas como essa em Porto Alegre, fritar no sol pra fumar um cigarro. Eu me sentia, digamos, acolhida. Engraçado foi durante a Olimpíada, em que distribuíram cartazes de proibido fumar em todos os bares e restaurantes de Pequim. Mas bastava chamar o dono e perguntar se podia, ele olhava pros lados pra conferir se não tinha algum estrangeiro que poderia reclamar, e entregava o cinzeiro. Ah, a China...

Claro que a tendência é mudar com o tempo. Mas nem no Japão, que todos acham ultracivilizado, os caras fumam menos. Lá também se fuma dentro das casas, bares e restaurantes na maior naturalidade. Até acho que as coisas vão mudar, mas daquele lado do mundo ainda vai demorar um pouquinho. Por isso digo, mesmo com toda a chatice que virou fumar no ocidente, ainda bem que eu estou deste lado do globo quando tomei a decisão de parar.

E força para começar o 5º dia!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Aquele com o amigo que parou de (comprar) fumar

Uma das coisas mais irritantes do mundo é amigo que para fumar. Não, peraí, deixa eu terminar. A criatura vem, conta o drama, diz que parou de fumar e te fila uns 10 cigarros. Sempre que alguém vem chegando perto de mim no fumódromo com esse papo de parei de fumar... batata: a criatura te pede um cigarro. Quando eu fumava isso era muito irritante. Agora que eu parei de fumar, acho quase ofensivo.

Ok, sei que estou um pouco mais sem paciência que o normal, mas pensa. É difícil parar. Eu tou sentindo na pele. A gente tem que se preparar pra isso, tem que aceitar que acabou, que não dá mais. Criatura que diz que parou, mas fica pedindo, só parou de comprar. Porque me ofendo?? Porque tou sofrendo pra caralho por não fumar, morro de vontade de acender um cigarro que seja, mas resisto. A criatura que continua fumando não tem obrigação nenhuma de sustentar a tua mentira. Porque se parou de fumar, para. Resolveu diminuir em vez de parar de uma vez? Beleza. Mas compra teu cigarro. Fora que esse povo te prejudica por tabela.

No meu trabalho tem uma escadaria com saída pra minha rua, mas pra passar por ela, passo pelo fumódromo. Hoje uma das pessoas que tá sempre por ali fumando (e cujo nome não faço ideia) veio perguntar porque eu não tinha aparecido por ali esta semana ainda. Respondi que tinha parado de fumar. "Ah, tá. Parou de fumar ou de comprar?" Porra!!! Por isso me irrita. Os outros fazem a merda e todo mundo paga. Sei o porquê da pergunta, mas fiquei com vontade de mandar longe.

Então vamos combinar assim: se parou de vez com o cigarro, para de vez de filar. Combinado?

Nicorete é boooooom...

Resisti o que deu ao chicletinho, mas agora só ele tem conseguido me manter sob controle. Confesso que tava meio em cética: será? O Nicorete promete até clarear os dentes (além de te deixar menos desesperada). Achei meio estranho, de início. Coloquei na boca e segui as instruções: primeiro masca, quando larga o gosto deixa entre a língua e a gengiva e vai dando umas mascadinhas. Não tem gosto de cigarro. Nenhum. Mas uns minutinhos depois de começar a mascar dá uma sensação de alívio e parece que a gente não vai mais matar ninguém na rua, nem começar a chorar por estar sem cigarro.

Meu namorado se irrita comigo mascando chiclete. Esqueço que tou com o troço na boca e fico horas, mesmo sem gosto. Well, ando fazendo a mesma coisa: tenho mascado dois por dia, mas cada que vez que coloco na boca fico horas e horas e horas... Tem ajudado muito. Santo chicletinho!!! A quem tá na mesma peleia, recomendo.

Hoje é o meu 4º dia sem cigarro. Só tive gana uma vez hoje (gana mesmo, vontade insuportável). Na média, tou calma. Bem que podia continuar assim...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

E Murphy me persegue

Impressionante como Murphy é um desgraçado. Você faz o esforção de parar de fumar e o que acontece?

- todo mundo que te fila cigarro constantemente, resolve te pagar.

- quando fumava, passava desespero pq tinha acabado o cigarro. agora eles simplesmente aparecem nas bolsas e gavetas.

- parece que todos os fumantes do mundo escolhem o seu lado para parar na rua, dando aquelas tragadas longas (e lindas).

- aqueles colegas que sempre diziam "ai, cigarro eu não compro" quando iam no mercadinho, agora se oferecem pra comprar cigarro bem na boa

- quando fumava, precisava estar sempre de olho no isqueiro. agora, magicamente, eles aparecem (e funcionam. inclusive parece que todos os isqueiros estragados que você guardava sabe-se-lá-pq voltaram a funcionar).


E com tudo isso, a gente dá risada e segue resoluto. Ô, mas é difícil essa vidinha de ex-fumante!

Te negarei três vezes

Ontem, enquanto eu vinha pra Porto Alegre, lembrei que tinha uma carteira de cigarro aberta dentro do carro. Parada ali naquele para-e-arranca, minha cabeça começou a me sacanear de novo. E eu ali, na abstinência, doida pra ceder. Peguei o cigarro e botei na boca. Acendi o isqueiro. Nada. Falhou. Interpretei como sinal. Não fumei.

Mais tarde, já em casa, continuava com a carteira de cigarro dentro da bolsa. Por mais que inventasse coisas pra fazer e tentar não pensar naquele pacotinho dentro da bolsa, continuei com o pensamento fixo nisso. Peguei um cigarro. Deixei rolando entre os dedos. Cheirei. A tentação ficou quase insuportável. Amassei e joguei no lixo. Peguei meu primeiro chiclete de nicotina.

Fui dormir cedo. Afinal, todos nós precisamos de boas horas de sono. Essa é a oportunidade perfeita pra repor e ter um soninho de beleza. No fim das contas, uma das coisas que mais em empolga em parar de fumar é saber que a minha pele vai ficar muito melhor (pelo menos é que mais me é visível nas pessoas que pararam de fumar). Quem disse que eu dormi? Rolei prum lado, rolei pro outro. Cochilei. Acordei com uma dor no peito. Levantei e fui ver TV. Parecia impossível ficar na cama. Fui de novo na bolsa e peguei outro cigarro. Fiquei avaliando toda a situação. Porque, afinal, eu ainda tinha esta carteira de cigarro? Será que eu vou deixar minha cabeça continuar me sacaneando desse jeito? Cheirei o cigarro de novo. Lembrei de todos os momentos em que eu estava naquela mesma situação: sozinha em casa tendo apenas o cigarro como companhia. Lembrei de como eu gostava disso. Daí lembrei da Dulce Helfer, fotógrafa talentosíssima, que, num dia em que eu estava de plantão no jornal, fumando no corredor, veio conversar comigo sobre uma figura ilustre que também fumava. Falou de todo o sofrimento no fim da vida do Mário Quintana, grande escritor que se tornou amigo de Dulce. Falou da respiração difícil, da solidão que nunca era abrandada num quarto pobre de hotel. "A solidão, no fim, se tornou muito maior com a proximidade da morte. No fim das contas, o cigarro não era companheiro, era a própria morte querendo companhia". Deixei o cigarro na mesa. Fui na bolsa e busquei os outros que restavam. Amassei e rasguei todos.

Depois de conseguir negar essas três vezes e acabar com a tentação da companhia silenciosa, fui dormir. E, desta vez, dormi mesmo.