terça-feira, 30 de abril de 2013

O dia em que me dei conta

Hoje tava aqui lendo o relato da Cátia, que tá pensando pelo inferno dos primeiros dias sem fumar. É o inferno mesmo, nenhuma outra figura define melhor os dias intermináveis, a ansiedade, a angústia, a dor. É tudo feio, é tudo chato, é tudo à flor da pele. Dá vontade de chorar, dá vontade de brigar, dá vontade de socar e sair correndo. E acender um cigarro. E lembrar que parou de fumar e que não pode mais fazer isso, então o ciclo de angústia começa todo de novo. Eu sei. Eu senti.

E não é porque eu consegui manter minha decisão (aí já se passaram um ano, três meses e oito dias) que eu assumi a postura de algoz, de sermãozinho e outras babaquices à-moda-chato-varella. Não. Nessa hora tudo o que eu posso fazer é estender a mão, dizer que entendo e que pode, sim, desabafar. Porque dá vontade de falar, dá vontade de gritar, dá vontade de xingar. E parece que vai dar tudo errado. E é nessa hora que eu entro de novo pra dizer que melhora, que as coisas vão dar certo. Leva um tempo, mas melhora.

E aí que pensando nisso lembrei de uma coisa boba que aconteceu. Durante o dolorido processo que foi parar, alguns detalhes fazem com que a gente se dê conta de que as coisas tão dando certo. Quando eu comecei a fumar, lá em priscas eras, me dei conta de que eu era fumante porque criei uma mancha entre o indicador e o dedo médio da mão direita, bem em cima de um calinho, que nunca saía. Aos poucos tive que parar de pintar as unhas de cores claras porque bem naquelas unhas ficava meio amarelado, feio. É até meio nojento falar, mas ali tinha sempre um cheirinho de cigarro, por mais que eu lavasse as mãos.

Vi que a minha decisão de parar era séria quando me dei conta de que aquela mancha não existia mais. Foi quase como perder um ente querido mais uma vez. Aquela mancha tava ali há tanto tempo que parecia até de nascença. Mas não era. De repente me dei conta de que não era. Era a mancha do meu vício, daquilo que me fazia acreditar que era companhia, que me acalmava, me ajudava.

Ainda lembro da primeira vez que olhei meus dedos e a mancha não tava mais ali. Depois do susto, depois da ficha cair, fiquei feliz. Era mais um sinal de que o caminho tava certo. Mais um sinal de que eu tava conseguindo. E estou conseguindo. Do mesmo jeito que a Cátia vai conseguir ;)

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