segunda-feira, 26 de março de 2012

A arte do desapego

Parar de fumar não faz com que apenas paremos com o hábito de colocar um cigarrinho na boca e sair fazendo fumaça. Parar de fumar muitas vezes significa mudar de hábitos, de itinerário, perder alguns contatos. Eu, por exemplo, fazia um determinado caminho até o trabalho pra passar pelo mercadinho que aceitava cartão de débito na venda do cigarro. Atitude normal de quem se livra de qualquer vício. O cara que é alcoólatra em recuperação não vai mais ao mesmo bar todos os dias, sair com os mesmos amigos. A menina que perdeu 50kg não vai mais à mesma confeitaria que ia diariamente comprar duas fatias de torta com chocolate quente. Não adianta. Não dá mais. Não combina. A gente se desencaixa desse mundo (por mais que sinta falta).



Nesse momento em que parei, deixei de frequentar o fumódromo aqui do trampo. Pra quem não sabe, o fumódromo normalmente é um lugar a céu aberto ou insalubremente fechado onde os fumantes se amontoam pra fazer fumaça. Olha, já tive em fumódromos de todos os tipos, desde os mais hitech que possuíam um sistema de filtros fantástico que fazia com que o lugar não tivesse nem cheiro de cigarro, até os 2mx2m, absurdamente enfumaçados, hermeticamente fechados onde tu te sente até humilhado de só poder fumar ali. Mas paciência. Quando a gente fuma, a gente aguenta. Não sinto nenhuma falta do fumódromo do meu trabalho atual. Ainda bem. É mais fácil evitar aquele lugar, aquele caminho, aquelas pessoas e aquelas conversas, quando elas já não faziam muita falta antes.

Trabalhei em um lugar onde nem sempre as coisas eram assim. Era um fumódromo chinelão. Só não era mais insalubre por falta de espaço. Na real, acho que o quesito insalubridade sempre fica de fora quando o engenheiro pensa em um fumódromo. Cara deve pensar: pô, tão indo lá pra fazer algo insalubre, para quê querem um ambiente agradável, não é mesmo? Entretanto, mesmo sendo uó, a gente ia e fazia questão de sentar só pra poder ouvir histórias de um tempo em que o jornalismo era menos chato, burocrático e preguiçoso. Adorava ficar lá ouvindo todas aquelas histórias daquelas pessoas interessantíssimas. Agora em que penso no desapego de frequentar um fumódromo, penso em como é bom desapegar de algo que não tinha atrativos e não de lugares bagaceiros como aquele, mas cheio de boas histórias pra escutar.

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